A obesidade é provocada, em linhas gerais, por um desequilíbrio entre ingesta calórica e gasto energético. Do lado da balança em que predomina a ingesta calórica excessiva há vários padrões alimentares incorretos, mas alguns se destacam pela relação muito estreita com distúrbios psicológicos, dentre eles encontra-se o Transtorno Compulsivo Alimentar Periódico (TCAP), uma entidade vivida de forma dramática por muitos pacientes que se encontram acima do peso, mas frequentemente negligenciada durante seu tratamento.
E o que é o TCAP?
O TCAP é classificado como um Transtorno Alimentar, juntamente com outras doenças psiquiátricas ligadas a este tópico, como a Bulimia Nervosa, a Anorexia Nervosa e outros transtornos alimentares sem classificação. É um distúrbio em que o indivíduo ingere de maneira rápida e incontrolável uma grande quantidade de alimento em um curto período de tempo e, logo após o episódio, sente culpa e/ou repulsa por si próprio. Não há, entretanto, em comparação a Bulimia Nervosa, hábitos purgativos como tentativa de induzir vômito ou uso de laxantes.
A quantidade de alimento ingerida costuma ser muito maior do que a consumida normalmente por outras pessoas e isto desperta um sentimento de vergonha no portador da doença, o que faz com que este hábito seja solitário na maioria dos casos, longe da vista dos seus pares. O constrangimento também pode impedir que o paciente relate estes episódios compulsivos ao médico, tornando seu diagnóstico e tratamento ainda mais difícil.
De acordo com a 4ª edição do DSM – IV (Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders – TR) os critérios para o diagnóstico de TCAP são:
A – Episódios recorrentes de compulsão alimentar periódica (excesso alimentar e perda de controle)
B – Comportamentos associados à compulsão alimentar (pelo menos 3):
1- Comer rapidamente
2- Comer até sentir-se cheio
3- Comer grandes quantidades de comida mesmo sem estar faminto
4- Comer sozinho por embaraço pela grande quantidade de comida
5- Sentir repulsa por si mesmo, depressão ou demasiada culpa após a compulsão
C – Acentuada angústia pela compulsão alimentar
D – Frequência de duração da compulsão alimentar: média de 2 dias por semana por 6 meses
E – Não se utiliza de métodos compensatórios inadequados (ex: purgação)
Estima-se que no Brasil cerca de 6,5% dos homens e 5,5% das mulheres que apresentam sobrepeso ou obesidade tenham critérios para TCAP. Quanto mais acima do peso o indivíduo, maior será a frequência de TCAP e é mais comum que este grupo de pacientes sofram de outros transtornos psiquiátricos como depressão, ansiedade, síndrome do pânico, tenham traços de personalidade impulsiva, baixa autoestima, entre outros, em comparação a outros indivíduos obesos. Além disto, é mais comum que seus horários alimentares sejam caóticos, que já tenham se submetido a diversos tipos de tratamentos dietéticos, incluindo dietas “da moda” e alguns métodos radicais, refletindo uma tendência de pensamento de “ou tudo ou nada”, ou seja, não conseguem ter uma atitude de moderação com relação ao hábito alimentar.
Como abordar o indivíduo com TCAP?
O tratamento do TCAP não deve centrar-se apenas na figura do médico endocrinologista, ele deve ser multidisciplinar com acompanhamento obrigatório do psicólogo, nutricionista e médico psiquiatra.
Cabe ao nutricionista verificar a distribuição dos horários da dieta, a composição da mesma, quais os horários mais frequentes dos episódios compulsivos, que tipo de alimento serve para disparar estas crises e quais auxiliarão a aumentar a sensação de saciedade, com que velocidade o indivíduo come, como é a mastigação, verificar o diário alimentar do paciente, suas preferências alimentares, etc.
O psicólogo, na maioria das vezes, optará por uma linha de tratamento conhecida por terapia cognitivo comportamental, onde abordará quais os “gatilhos” emocionais para estes episódios, como ele se sente em relação ao comer compulsivo, verificar a concomitância de outros distúrbios psicológicos associados e que possam estar favorecendo a recorrência da compulsão alimentar e propor técnicas para melhora do autocontrole do indivíduo.
O médico endocrinologista, em conjunto com o psiquiatra, abordará o tratamento medicamentoso, que costuma resultar em ótimo benefício para este grupo de pacientes, além de verificar a concomitância de outras doenças que podem surgir em um indivíduo com excesso de peso e que podem levar a piora do aumento do apetite, como o diabetes, por exemplo.
Acima de tudo, o paciente precisa ser colaborativo e confiar na equipe que está acompanhando seu caso, relatar em detalhes seus hábitos alimentares e como se sente diante deles é a chave para o sucesso terapêutico, por mais difícil (e constrangedor) que isto inicialmente possa ser. Desta forma, o diagnóstico do TCAP, quando ele existir, poderá ser feito de maneira acertada e o tratamento melhor direcionado.
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